Simpósio das Águas discute situação dos recursos hídricos no RS

Foto: Vinicius Reis/Agência ALRS

 

  

Presidente dos comitês de bacias participa do evento

O professor da UPF e presidente dos Comitês de Bacias Hidrográficas do Rio Passo Fundo (CBHPF) e do Alto Jacuí (Coaju), Claud Goellner participou do Simpósio Gaúcho das Águas realizado na segunda-feira (15), em Porto Alegre, no Teatro Dante Barone. Durante o evento foram debatidos o uso de água da chuva na construção civil e na agropecuária, a reutilização da água, a presença de contaminantes na água potável e o planejamento e gestão da água, entre outros assuntos.

 

Participantes de Simpósio decidem criar Associação Gaúcha das Águas 

Durante reunião-almoço no Palácio Farroupilha participantes do Simpósio Gaúcho das Águas decidiram criar a Associação Gaúcha das Águas. Na ocasião, o presidente do Parlamento gaúcho, Alexandre Postal (PMDB), recepcionou o representante da Organização das Nações Unidas, doutor Henricus Antonius Heijnen, junto do diretor do Fórum Democrático de Desenvolvimento Regional, Sérgio Sady Musskopf, que organiza o Simpósio na Assembleia Legislativa RS, e do superintendente-geral da ALRS, Fabiano Geremia. 

Até o final do Simpósio Gaúcho das Águas, no Teatro Dante Barone, os interessados em se associar à nova Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) podem deixar o nome na recepção do evento. A seguir, será aberto prazo para avaliação do estatuto e encaminhamento de sugestões. Musskopf  afirma que a fundação oficial deve ocorrer em novembro, em data a ser confirmada. “O objetivo é dar continuidade aos temas tratados aqui, a partir de um debate estabelecido como prioritário na gestão da Presidência da Assembleia Legislativa em 2012”, esclarece o diretor do Fórum. 

Também estiveram presentes na reunião, na sala da Presidência, o Dr. José Arturo Gleason Espíndola, da Universidad de Guadalajara, México; o Dr. Johann Gnadlinger, da Associação Brasileira de Captação e Manejo da Água de Chuva; o coordenador do GEAD Sustentabilidade Ambiental, Lélio Luzardi Falcão, e outros participantes do Simpósio. O grupo sugeriu que Postal seja o presidente honorário da Associação devido ao empenho para que o tema da água seja tratado com a profundidade que precisa no Estado, especialmente quanto à importância da preservação da água pluvial.

  

Painel discute gestão de recursos hídricos no país e no RS 

Gestão dos recursos hídricos, estiagem e o Aquífero Guarani foram temas de palestras realizadas durante o Simpósio Gaúcho das Águas. A coordenação do segundo painel da tarde ficou a cargo de Cláudio Dilda, assessor técnico do Serviço Municipal Autônomo de Água e Esgoto de Caxias do Sul. 

Representando a Farsul, Antônio da Luz discorreu sobre os impactos econômicos das estiagens na economia gaúcha, salientando que a falta de chuvas não gera perdas apenas nas propriedades rurais, mas sim em toda a sociedade, em razão da redução da produção. As recentes quedas verificadas na produção agrícola, como a de 45% na área da soja, por exemplo, têm levado o Rio Grande do Sul a um estado de economia recessiva, relatou.

Dalvino Franca, da Agência Nacional de Água, abordou os aspectos  políticos, legais e constitucionais na gestão das águas do país, parabenizando a iniciativa da Assembleia gaúcha e destacando a necessidade de participação da classe política para o encontro de soluções mais adequada nesta área. Também abordou a questão cultural da água e o que tem sido desenvolvido pela Agência Nacional neste sentido. 

O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do RS – Siduscom/RS, Cláudio Tietelbaun, discorreu sobre o tema “Construção Sustentável” e a necessidade de responsabilidade nas edificações, visando o bem-estar, também, da comunidade no entorno e suas consequências para o meio ambiente e para o futuro. 

O grave problema de gestão da água no Estado foi debatida pelo diretor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas, André Luiz Lopes da Silveira, para quem, nesta questão, “assim como está não dá para ficar”. Ele defendeu a urgente implantação do Plano Estadual de Recursos Hídricos eficaz e a contratação de mais recursos humanos, como os  técnicos-científicos, para atuarem no setor. É grave o problema no que respeita à Gestão da Água no Rio Grande do Sul, ressaltou. 

Daniel Schmitz, do Fórum Gaúcho de Comitês de Bacias Hidrográficas, debateu sobre  a gestão participativa e descentralizada dos recursos hídricos no Rio Grande do Sul, com a participação dos órgãos governamentais, do setor privado e de entidades representativas da sociedade. 

O último palestrante do evento foi João Manoel Froner Bicca, diretor-executivo do Programa Rio Uruguai e Aquífero Guarani, que tratou do tema “Rio Uruguai – Aquífero Guarani (Retomada)”. Destacou a importância de projeto elaborado conjuntamente com Santa Catarina  para a bacia do Uruguai – 85% da bacia está sobre o Aquífero – e para o próprio Aquífero, que agora começa a ser implantado, com recursos, inclusive, disponibilizados pelo Japão. Ele parabenizou a Assembleia gaúcha, na pessoa de seu presidente, deputado Alexandre Postal (PMDB), pelos trabalhos desenvolvidos em prol do referido projeto e do melhor aproveitamento da água. 

Após as palestras, foi lida pelo coordenador do Gead Sustentabilidade Ambiental, do Fórum Democrático de Desenvolvimento Regional da Assembleia, Lélio Falcão, a Carta Gaúcha das Águas, que, entre outros aspectos, defende a criação de um plano estadual para captação e manejo da água, o controle público deste recurso estratégico e incentivos à captação de águas da chuva. 

O show de encerramento do evento foi realizado pelo artista José Luiz Santos. 

 

Palestrantes abordam experiências de manejo da água da chuva e gestão hídrica

As experiências do México e do Nordeste brasileiro quanto ao manejo da água da chuva e a posição do governo do Estado na gestão dos recursos hídricos do Rio Grande do Sul foram temas de palestras realizadas durante o Simpósio Gaúcho das Águas. Os trabalhos do primeiro painel da tarde foram coordenados pelo representante do Grupo Executivo de Acompanhamento de Debates de Sustentabilidade Ambiental, Lélio Luzardi Falcão. 

 

Experiência mexicana 

O professor da Universidad de Guadalajara, José Arturo Gleason Espíndola, abordou sua experiência em projetos de captação, armazenamento e purificação da água da chuva para residências e áreas industriais. Segundo ele, um sistema de captação da água da chuva em uma residência localizada em uma cidade como Guadalajara, que apresenta um potencial anual de precipitação de 900 mm, é capaz de armazenar cerca de 26 mil litros de água por ano. Esse volume representa o gasto médio de uma família no mesmo período. Em Porto Alegre, a captação poderia ser ainda maior, visto que a média potencial de precipitação é de 1.500 a 1.600 mm de chuva por ano. 

Espíndola também apresentou o projeto que desenvolve na bacia do Rio San Juan de Díos, localizado em Guadalajara, capital do estado de Jalisco. O objetivo dessa ação, conforme o palestrante, é restaurar o ciclo hidrológico da região, aumentando a infiltração de água nos aquíferos e reduzindo o simples escorrimento da água sobre as áreas urbanas, impermeabilizadas pelo concreto. 

 

Estiagem no Rio Grande do Sul  

Representando o governo do estado, o diretor do Departamento de Recursos Hídricos da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, Marco Mendonça, falou sobre a condição atual dos recursos hídricos do estado, citando dados atualizados sobre a disponibilidade, a demanda e a qualidade hídrica. Segundo ele, o tema do abastecimento de água tem pautado ações urgentes do governo do estado, devido à forte estiagem ocorrida no Rio Grande do Sul neste ano. Ele lembrou que extremos climáticos como o vivenciado atualmente já são conhecidos do gaúcho, que desde o século XIX vive numa ‘gangorra’ entre estiagem e enchente. Ainda conforme Mendonça, tais intempéries climáticas estão associadas aos fenômenos do El Niño e da La Niña. 

Mendonça contou que, desde dezembro do ano passado, vários órgãos do estado foram reunidos pelo governador para articular ações visando à mitigação dos efeitos da estiagem. Entre elas, está a conclusão do Plano Estadual de Recursos Hídricos, que foi iniciado em 2007 e está em fase final de elaboração. Tal plano deverá ser enviado para a Assembleia Legislativa, na forma de um projeto de lei, até março de 2013. Mendonça fez ainda referências a instrumentos para a gestão pública da água, já presentes numa lei de 1994, que institui no Rio Grande do Sul o Sistema Estadual de Recursos Hídricos.  

 

Situação hídrica do Nordeste 

O representante da Associação Brasileira de Captação e Manejo da Água de Chuva, Johann Gnadlinger, tratou sobre a situação hídrica do Nordeste. Segundo ele, embora o Brasil seja o mais rico em água doce do mundo, há regiões como a do semiárido brasileiro que sofrem com seca, uma vez que o recurso hídrico está distribuído de maneira desigual no território. Conforme números trazidos pelo palestrante, o Sul do país conta com 6,5% da água doce do Brasil. Já o Nordeste, que possui área três vezes maior e o dobro da população que o Sul, conta com apenas 3% da água doce nacional. 

Quanto à captação da água da chuva no sertão, Gnadlinger apresentou o funcionamento de estruturas conhecidas como “barreiros”, espécies de cisternas construídas para armazenar água da chuva. Ele também fez referências a grandes ações que estão sendo colocadas em prática no Nordeste, como a construção de grandes barragens, a transposição do Rio São Francisco, a perfuração de poços profundos e construção de cisternas de água potável. 

 

Representante da ONU defende a armazenagem da água da chuva para minimizar escassez 

O Simpósio Gaúcho das Águas, promovido pela Assembleia Legislativa, por meio do Fórum Democrático de Desenvolvimento Regional, apresentou três palestras relativas ao tema da água. O encontro, que ocorre no Teatro Dante Barone, foi coordenado por Alexandre Scheifler, da Fetag RS.

O representante da Organização das Nações Unidas (ONU), Henricus Antonius Heijnen, apresentou o tema:  Experiência Mundial na Captação de Água de Chuva. Ele destacou que a captação da água da chuva pode melhorar a produção agrícola, garantir a segurança alimentar, além de potencializar o uso doméstico.  

Heijnen salientou que o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) considera de fundamental importância a utilização da água da chuva para os mais diversos usos. A captação das águas da chuva, que já ocorre em várias partes do mundo, serve para a agricultura, consumo humano e para a gestão urbana. "Mesmo em países úmidos o estresse hídrico é crescente, devido à atividade humana, o desenvolvimento urbano e a poluição", alertou. 

As razões apontadas por Heijnen para captação das águas da chuva são: abastecer regiões semi-áridas, melhorar o abastecimento rural e urbano, abastecer populações que usam águas com alto grau de salinidade, substituir águas que contém altos níveis de arsênico e fluor e para abastecimento de emergência. 

O representante da ONU destacou a necessidade da criação de políticas públicas capazes de garantir água para toda a população. "A finalidade deste encontro é tornar a água uma responsabilidade de todos", sublinhou Heijnen.   

 

Meteorologia 

O coordenador do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), Osvaldo Luiz Leal de Moraes, abordou as Contribuições da Ciência Meteorológica para o Gerenciamento de Recursos Hídricos. Ele salientou que uma série de fatores dificultam estabelecer com precisão a previsão do tempo. Para ele, estas limitações estão nos processos não lineares que governam a dinâmica e a termodinâmica da atmosfera e dos oceanos. "Conseguimos escrever as equações que governam os fenômenos, mas não conseguimos resolvê-las adequadamente", argumentou. 

Osvaldo sublinhou que a previsão metereológica depende de três fatores; computadores, observações e recursos humanos. Para ele o país precisa investir mais na obtenção de um satélite geoestacionário de última geração e radares, além de realiza mais investimentos na formação de recursos humanos para a área da meteorologia. "O Rio Grande do Sul é o único estado brasileiro com dois cursos de graduação em meteorologia", exemplificou.  

 

O caso de Caxias do Sul 

O engenheiro Marcus Vinicius Caberlon, diretor-presidente do Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto de Caxias do Sul (SAMAE), apresentou o Case I - Água em Caxias do Sul  - Garantia de Quantidade e Qualidade nos próximos 30 anos. Ele garantiu que os investimentos feitos pela empresa a partir de 2002 garantirão, em 2012, que 86% do esgoto da cidade seja tratado.  

Caberlon destacou que o abastecimento de água de Caxias do Sul está no limite de sua capacidade de fornecimento de água. Para enfrentar este desafio ele enumerou os investimentos realizados em captação de água da chuva através de pequenas barragens ou piscinões, além da construção do Sistema Marrecas, orçado em 240 milhões de reais. 

No final da manhã, os participantes do Simpósio Gaúcho das Águas criaram a Associação Gaúcha das Águas. A leitura da ata que oficializa a entidade deve ocorrer às 13 horas, na retomada da programação do Simpósio, que está sendo transmitido, ao vivo, no site da Assembleia. 

 

Fonte: Agência de Notícias Assembleia Legislativa RS